Tenemos deseo aún, 2024
Video | 5’18”
vídeo | 5’18”
Project by Marilá Dardot during residency at El Ganzo Hotel, Los Cabos, Mexico, July 2024.Photographs, sound and video editing by Hugo Álvarez Zanollo
Projeto de Marilá Dardot durante residência no El Ganzo Hotel, Los Cabos, México, julho de 2024. Fotografias, som e edição de vídeo de Hugo Álvarez Zanollo
During a residency at El Ganzo Hotel, the artist invited the hotel staff to write their wishes. The papers with their answers and photographs of their hands doing their work composes the video piece.
Thanks to all the hotel staff who participated in the project by sharing their wishes.
Durante uma residência no hotel El Ganzo, a artista convidou o funcionários a escrever os seus desejos. Os seus papéis com as respostas e fotografias das suas mãos a fazer o seu trabalho compõem a peça de vídeo.
Obrigada a todos os funcionários do hotel que participaram do projeto compartilhando seus desejos.
¿¡jerga?!, 2024









Installation | Vinyl paint on floor cloths, steel cable
Instalação | Tinta vinílica sobre panos de chão,cabo de aço
“Jerga” is a traditional and 100% Mexican product, there is not a household in the country that does not have one. The same word also means “slang”, a special language originally used for cryptic purposes by certain groups, which sometimes extends to general use. Its use may connote an attachment to a given sociocultural group, a defensive, intimate and defensive desire for intimacy and secrecy, a playful or ironic eagerness, and also a desire to show solidarity. The search for a resource, an anarchic expressive means, an insurrection against the official language, that of the colonizer. There is no Mexican who does not use a slang in his or her way of speaking.
In the installation, the punctuation marks painted in the colors “Colonial Blue” and “Mexican Pink” seek to subvert the expectations of the current uses of the language and materials, weaving new questions about processes of cultural affirmation.
Installation view at the Tijuana Triennial: 2. Internacional Pictórica , Mexico, 2024
A “Jerga” é um produto tradicional e 100% mexicano, não há uma casa no país que não tenha uma. A mesma palavra também significa “gíria”, uma linguagem especial usada originalmente para fins enigmáticos por determinados grupos, que às vezes se estende ao uso geral. Seu uso pode conotar um apego a um determinado grupo sociocultural, um desejo defensivo, íntimo e defensivo de intimidade e sigilo, uma ânsia lúdica ou irônica e também um desejo de demonstrar solidariedade. A busca por um recurso, um meio expressivo anárquico, uma insurreição contra o idioma oficial, o do colonizador. Não há mexicano que não use uma gíria em seu modo de falar.
Na instalação, os sinais de pontuação pintados nas cores “Azul colonial” e “Rosa mexicano” buscam subverter as expectativas dos usos atuais da linguagem e dos materiais, tecendo novas perguntas sobre os processos de afirmação cultural.
Vista da instalação na Trienal de Tijuana: 2. Internacional Pictórica ,México, 2024
Las preguntas de la Maga, 2023










28 mineral prints on Hahnemühle paper and dibond | 45 x 60 cm [each]
28 impressões minerais sobre papel Hahnemühle e dibond | 45 x 60 cm [cada]
Created for an exhibition commemorating the 60th anniversary of the publication of Julio Cortázar's Rayuela, the work highlights the questions asked by the character Maga.
Realizada para uma exposição comemorativa dos 60 anos da publicação de Rayuela, de Julio Cortázar, a obra destaca as perguntas feitas pela personagem Maga ao longo da novela.
Biblioteca infinita, 2023

Led illuminated sign | 159 x 30 x 17 cm
Letreiro luminoso | 159 x 30 x 17 cm
Letters are atoms of language. They can create infinite combinations, idioms, narratives, speeches, thoughts. Biblioteca Infinita announces the possibility of recombining letters and colors: imagination to rethink our actions in the world.
Letras são átomos da linguagem. Elas podem criar infinitas combinações, linguas, narrativas, discursos, pensamentos. Biblioteca Infinita anuncia a possibilidade de recombinar letras e cores: imaginação para repensar as nossas acções no mundo.
Prosa, 2023

Led illuminated sign | 30 x 50 x 17 cm
Letreiro luminoso | 30 x 50 x 17 cm
The works Prosa and Poesia (”Prose" and "Poetry") are attempts to capture the perception of the effect of the two literary genres in a minimum of graphic signs. In "Prosa", the parentheses announce an emptiness, a pause, an isolation, a place that is filled with foreign stories that are inserted into the flow of the reader's daily reality: reading as a possibility to live other experiences.
(The images correspond to the same piece at different times. The background color is fixed and only the brackets blink).
As obras Prosa e Poesia são tentativas de capturar a percepção do efeito dos dois gêneros literários em um mínimo de sinais gráficos. Em "Prosa", os parênteses anunciam um vazio, uma pausa, um isolamento, um lugar repleto de histórias estrangeiras que se inserem no fluxo da realidade cotidiana do leitor: a leitura como possibilidade de viver outras experiências.
(As imagens correspondem à mesma peça em momentos diferentes. A cor de fundo é fixa e somente os parênteses piscam).
Poesia, 2023

Letreiro luminoso | 30 x 50 x 17 cm
The works Prosa and Poesia (”Prose" and "Poetry") are attempts to capture the perception of the effect of the two literary genres in a minimum of graphic signs. In "Poetry", the parentheses are inverted to create a subversion of language, an echo that resonates outwards: reading as the possibility of twisting everyday logic.
(The images correspond to the same piece at different times. The background color is fixed and only the brackets blink).
As obras Prosa e Poesia são tentativas de capturar a percepção do efeito dos dois gêneros literários em um mínimo de sinais gráficos. Em "Poesia", os parênteses são invertidos para criar uma subversão da linguagem, um eco que ressoa para fora: a leitura como a possibilidade de distorcer a lógica cotidiana.
(As imagens correspondem à mesma peça em momentos diferentes. A cor de fundo é fixa e somente os parênteses piscam).
Zero Tolerance Silver Clouds, 2018/2022
Installation | Metal structure, Mylar balloons, fans, air and helium gas
Instalação | Estrutura metálica, balões de Mylar, ventiladores, ar e gás hélio
The installation Zero Tolerance Silver Clouds connects the American immigration policy “Zero Tolerance” to the installation Silver Clouds (1966), by Andy Warhol. In 2018, images of the detention center in Texas shocked the public by showing approximately 2 thousand migrant children imprisioned and separated from their families. In a barred space, children used silver blankets made with the same material as that used for Andy Warhol’s ballons.
“There is a real sense of liberty that can be felt among people that play with the silver clouds (…). The silver clouds show audiences that life can be fun, spontaneous and exciting especially when one is willing to explore other avenues and possibilities that are not grounded in rules and regulations.” ︎︎︎
The “American Dream”, national ethos of the US, sets ideals in which freedom includes the opportunity for prosperity and success, an upward social mobility for the family and children, achieved through hard work in a society with few barriers. Evoking an icon of contemporary art, the piece contrasts these ideals with the actual migration policies of the country.
Artwork produced for the 13th Mercosur Biennial, 2022 and XVI Cuenca Biennial, 2023
A instalação Zero Tolerance Silver Clouds conecta a política estadunidense de imigração “Tolerância Zero” com a instalação Silver Clouds (1966) de Andy Warhol. Em 2018, as imagens de um centro de detenção no Texas chocaram o público ao mostrar aproximadamente 2 mil crianças migrantes presas, separadas de suas famílias. Em um espaço gradeado, crianças usavam cobertores prateados feitos do mesmo material utilizado por Warhol nos balões sua obra.
"Há uma verdadeira sensação de liberdade que pode ser sentida entre as pessoas que brincam com as nuvens prateadas (…) elas mostram ao público que a vida pode ser divertida, espontânea e emocionante, especialmente quando se está disposto a explorar outros caminhos e possibilidades que não estão fundamentados em regras e regulamentos."︎︎︎
O “sonho americano”, ethos nacional estadunidense, estabelece ideais em que a liberdade inclui a oportunidade de prosperidade e sucesso, uma mobilidade social ascendente para a família e os filhos, alcançada através de trabalho duro em uma sociedade com poucas barreiras. Evocando un ícone da arte contemporânea, a instalação confronta esses ideais com as reais políticas migratórias nos EUA.Obra produzida para a 13ª Bienal do Mercosul, 2022 e XVI Bienal de Cuenca, 2023
Modelo para armar, 2022



















Installation | Clippings from magazines published between 1973 to 2022 on cardboard boxes
Instalação | Recortes de revistas publicadas entre 1973 a 2022 sobre caixas de papelão
In the installation Modelo para armar (A Model Kit) that occupies the gallery's main room, nouns cut from magazines published in Brazil since 1973 (the artist's birth year) are glued onto fragments of cardboard boxes, which can no longer be reassemble as boxes. The concepts of historical, political, affective, relational narratives and language itself detour into crisis and are there like a puzzle, to be reassembled, rearranged, resignified.
“The now useless boxes harbor historical, political, affective narratives, and language itself enters the picture to be rearranged and re-signified like projectiles in a symbolic operation. The piece’s title references a book by Julio Cortázar, in which he spins a narrative out of mutable pieces, in an ‘assembly’ where various word displacements set out to purge any fixedness, opening up meanings so the reader can assemble the elements their own way and ultimately write the story themselves. The work of Marilá Dardot also calls upon us as active readers. Her work is not intended to produce stationary meaning; it does not produce subject-fixating explanations of any sort. Her work is a kind of anchoring that is also adrift and invites the production of new words that may recreate existence, in the very vertigo of unfamiliarity.”
* Except from the text by Bianca Dias on the exhibition ainda sempre ainda
Na instalação Modelo para armar, que ocupa a sala principal da galeria, substantivos cortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano de nascimento da artista) são cola¬dos sobre fragmentos de caixas de papelão, que já não funcionam para remontar as caixas originais. Os conceitos de narrativas históricas, políticas, afetivas, relacionais e a própria linguagem entram em crise e estão aí como um quebra-cabeças, a serem remontados, rearranjados, ressignificados.
“As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortázar em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma ‘armação’ em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento.”
*Trecho do texto de Bianca Dias sobre a exposição ainda sempre ainda
Lista de palavras:
o abismo, a alegria, a (des) educação, a abertura, o abuso, o amanhã, o acordo, a agonia, o acontecimento, o amor, a agressão, o ajuste, as águas, o ano, a alegria, a beleza, a alternativa, o armário, o apocalipse, o centro, as armas, a ascensão, o aquecimento, as condições, a arte, a atitude, o ar, a contramão, o atraso, o básico, a armadilha, o corpo, a biblioteca, a bolha, a bomba, a década, a brincadeira, o boom, as causas, o delírio, a burrice, a branquitude, a cidade, o desafio, os caminhos, a casa, a ciência, o desmonte, o caos, a censura, as cinzas, o divertimento, o capitalismo, o congelamento, o contemporâneo, o engano, o carnaval, o consenso, o controle, a ética, a civilidade, o contragolpe, a conversa, os gêneros, o clitóris, a democracia, o crepúsculo, a greve, o colapso, a diferença, a culpa, a história, o conceito, os dilemas, a cura, o humor, o consumo, o dinheiro, o desejo, a ideologia, o corte, a ditadura, o desenvolvimento, o impensável, o crime, a doença, a devastação, o imperfeito, a crise, o erro, a discórdia, a independência, a culpa, a esperança, a discussão, a infância, a decisão, a estrela, a diversidade, a invasão, o desafio, a farsa, a era, a lei, o desenvolvimento, a ficção, a escolha, os livros, o desespero, o fim, a falta, a lógica, a desobediência, a floresta, a família, a loucura, a direita, a foto, a festa, o machismo, o drama, o funeral, a fome, o macho, as entrelinhas, a guerra, a fonte, o mapa, a esfinge, o homem, a fraqueza, a matança, o espaço, a hora, o golpe, a mídia, o esquema, a imagem, a gripe, a misoginia, a estratégia, a indignação, a inclusão, os muros, a falência, a inflação, a liberdade, a negação, a força, o jogo, a linguagem, o novo, a fronteira, a justiça, a máquina, o otimismo, o futuro, a luta, a marcha, o papelão, o grito, a mamata, a meia idade, a pausa, a intolerância, o meio do caminho, o mercado, o pensamento, a invasão, a mira, o mesmo, o privilégio, o jeitinho, o momento, o milênio, a razão, as lágrimas, a mulher, a nostalgia, a reabertura, o mar, o neoliberalismo, a ocupação, a realidade, o massacre, as obras de arte, a oportunidade, as ruas, o meio ambiente, o ódio, a oposição, a saúde, o modelo, a opção, a opressão, o século, a morte, a paciência, a ordem, o símbolo, o mundo, a paisagem, o pacto, o sistema, o nada, a pandemia, o passado, a solução, a necrologia, o paraíso, a paz, a terra, a notícia, a pergunta, o plebiscito, o underground, o que importa, o pesadelo, a política, o vazio, a obra, a pobreza, o preço, o veneno, o ocaso, o populismo, a primavera, a verdade, as palavras, o prazer, as redes, o vírus, a paranoia, o presente, a república, a voracidade, a perda, a promessa, o sangue, a xenofobia, o planeta, o racismo, a selva, o poço, o retorno, o sexo, o poder, a revolução, o silêncio, a polarização, a segurança, o terror, a polêmica, o simples, o zero, o possível, a tecnologia, o pranto, a toga, o progresso, a transição, o radicalismo, a tristeza, a raiva, a vanguarda, a renovação, a velocidade, o repouso, a vida, a resposta, a voz, o romance, a saída, o segredo, o sexismo, a sociedade, o sol, a solidão, o sonho, o susto, o tempo, o terror, a tormenta, a tortura, a tragédia, os transformo, a virada, a volta.
Libros y, 2022








Galvanized steel profile and enamel painting | Variable dimensions
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte | Dimensões variadas
The “Libros y” series was born from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that adver- tised a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.
“The events the book can generate, in the intimate as well as the political spheres, find a new world through words: pleasure, rebellion, subversion, disaster, potencies, transformations or insurrections. The lettering indicates that the rewriting of words that compose history must be done one letter at a time – an adventure which transcends communication and meaning to touch on an inscrutable point: its ‘contact point with the unknown.’ The experiences that the words in the lettering carry do not target meaning directly, but scurry through the lines which, first and foremost, are bets on the subversion of language and its transfiguring power. Such transfiguring is highlighted by Roland Barthes, who argues: ‘All poetry, all unconscious is a return to the letter,’ an adventure situated at the margins of the purported purposes of language, and precisely for that reason, at the center of its action.”
* Except from the text by Bianca Dias on the exhibition ainda sempre ainda
A série “Libros y” nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
“Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê- lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu ‘ponto de contato com o desconhecido’. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes
que afirma: ‘Toda a poesia, todo inconsciente são uma volta à letra’, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação.”
*Trecho do texto de Bianca Dias sobre a exposição ainda sempre ainda
Ações do mundo, 2022




Peeled book covers about world nations and index pages | 120 x 166 cm
capas de livros sobre nações do mundo descascadas e páginas de índices
Book covers from the “Nations of the World” collection are undone, leaving fragments of maps and composing new geographies.
The indexes of the same books announce chapters that describe countries using nationalist phrases. A part of the fabric of the cover, folded, gives the title to the work: Actions of the world.
“In Ações do mundo (Actions of the world), her act of attempting to tear off the covers of books on nations of the world reveals the beauty of map fragments that compose new geographies. The books’ indexes announce chapters that describe countries in nationalist, imperious sentences. A portion of fabric from the cover, folded over, gives the piece its title, subverting the idea of nation into action: nations become the world’s actions, destabilizing the familiar world through inventive handling of language, promoting the mestizaje of heterogenous substances: word and image which, in the strength of a gesture or a fold, reveal that the experience of reinhabiting the body and inhabiting the word can found the world anew.”
* Except from the text by Bianca Dias on the exhibition ainda sempre ainda
Capas de livros da coleção “Nações do Mundo” são desfeitas, deixando fragmentos de mapas, compondo novas geografias.
Os índices dos mesmos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho: Ações do mundo.
“Em Ações do mundo, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias.
Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações
do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo.”
*Trecho do texto de Bianca Dias sobre a exposição ainda sempre ainda
O Brasil o Brasil, 2022



Collage of magazine clippings on aluminum composite board | 5x210 cm
Colagem de recortes de revistas sobre placa de alumínio composto
Clippings from magazines published in Brazil since 1973 (the year Dardot was born) with the words “O Brasil” are pasted on neutral colored surfaces. The different colors, typologies and ages symbolize attempts to define a deconstructed country.
“(...) an idea of country gets recreated in O Brasi o Brasil (The Brazil the Brazil). Invoking the thickness of the word in its apparent simplicity, the words ‘The Brazil’ – also clipped from old magazines – are pasted on a neutral- color surface, yet different colors and typologies come across as an essay of acute political strength.“
* Except from the text by Bianca Dias on the exhibition ainda sempre ainda
Recortes de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano em que Dardot nasceu) com as palavras “O Brasil” são coladas em superficies de cor neutra. As diferentes cores, tipologias e idades simbolizam tentativas de definir um país em desconstrução.
“ (...) se recria uma ideia de país em O Brasil o Brasil. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política.“
*Trecho do texto de Bianca Dias sobre a exposição ainda sempre ainda
Linha do tempo, 2022





Collage of magazine clippings on aluminum composite board | 5x320 cm
Colagem de recortes de revistas sobre placa de alumínio composto
“In Linha do tempo (Timeline), another fold takes place: adverbs clipped from magazines publishe in Brazil since 1973 – the artist’s year of birth – and pasted on a surface create a timeline that projects the possibility of another passage, that trickles down amidst the words, a curve that scrambles up past, present and future. The questions therein delve deeper into the discussion ushered in by Georges Didi- Huberman in “Before time”: the realm of a complex, diffuse temporality. He argues that the thinking of Walter Benjamin, which underlies his anachronistic model, suggests that all historical narratives are composed of an assembly of heterogeneous elements. In Benjaminian terms, there is a currency to the past as seen through images. In the timeline Marilá Dardot creates, what comes into play is precisely the immoderateness of this impossibility, a wager on the minor revolution wrought by the dialectic effect that takes place between word and image, supporting enunciation as the last way out of the imaginary and political onslaught.“
* Except from the text by Bianca Dias on the exhibition ainda sempre ainda
“Em Linha do tempo outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político.”
*Trecho do texto de Bianca Dias sobre a exposição ainda sempre ainda
Palavra figura de espanto, 2022





Peeled book covers and Letraset| 27x189 cm
Capas de livros descascadas e Letraset
“In Palavra figura de espanto (Word figure of amazement), peeled-off book covers touch the evanescent materiality of word pairs which, in damaged, dusty spots, promote encounters and grooves that outline alternatingly improbabl and tense, fluid and harmonic horizons, showcasing the ambiguous, delirious dimension of the word. The amazement in the face of the word – or word itself as a “figur of startlement” – resides in th act of tearing off books’ covers to reveal the pictorial remnants and layers, down to the actual groove created by writing upon the surface: remembrance of the walls of a cave that eventually led us to paper. The artist recognizes that in this journey, an entire trajectory of writing, or of letter, to be more exact: from stylus to quill, from quill to pen, from cursive to block letters, from manuscript to typography and the printing press. As a gesture of resistance, writing survives by welcoming the unsayable and unpronounceable, while also overtaking it with a warehouse’s worth of signs that hails the encounter with other voice and handwritings. Out of so many words – tired and livid, secretive and magical, uttered and held back – a world is forged: from impotence to the impossible, a different map with its marks, stains and coastlines.“
* Except from the text by Bianca Dias on the exhibition ainda sempre ainda
“Em Palavra figura de espanto, capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os
restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta,
da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais.“
*Trecho do texto de Bianca Dias sobre a exposição ainda sempre ainda
ainda sempre ainda, 2022

Spray paint on glass and painted wooden frame| 130 x 200 cm
Pintura spray sobre vidro e moldura em madeira pintada|130 x 200 cm
In ainda sempre ainda (still always still), a painting on glass monumentalizes the words AINDA (STILL) and SEMPRE (ALWAYS) as a superposition of meanings through a semantic game. The two adverbs have the power to modify sentences and meanings, but, devoid of verbs, they remain stagnant.
Em ainda sempre ainda, uma pintura sobre vidro monumentaliza as palavras AINDA e SEMPRE enquanto uma sobreposição de sentidos por via de um jogo semântico. Os dois advérbios têm o poder de modificar frases e sentidos, mas, desprovidos de verbos, permanecem estagnados.
Domine seu idioma, 2021



Permanent marker on books and wooden transport crate | 125 x 61 x 28 cm
Marcador permanente sobre livros e caixa de transporte em madeira
While compiling the units of a language, dictionaries also represent a paradigm in which words perpetuate the powers and privileges of a particular class or nation. InDomine seu idioma (Master your language), a collection of dictionaries is used as the basis for a lexical game with expressions associated with speech. The idea of a common language is replaced by that of “their language”, presupposing differences and dissidences, opening gaps for new plural articulations.
“Domine seu idioma (Master your language), a saying the artist found in a dictionary, takes on fresh meaning. Once again, the exploration of letters in their graphical, imagistic aspect opens doors to a dimension of language that will not allow itself to be fixated by any deciphering. A set of piled-up dictionaries with intense chromatic power, representing a paradigm whereby words perpetuate power and privilege, gets reclaimed in an unpredictable future. Words, in turn, will not allow themselves to be easily taken as pieces of a discourse. They glide, creating an ethics that points to the reverse of an imperative order.”
* Except from the text by Bianca Dias on the exhibition ainda sempre ainda
Ao mesmo tempo em que compilam as unidades de uma língua, os dicionários também representam um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios de uma determinada classe ou nação. Em Domine seu idioma, uma coleção de dicionários é o suporte para um jogo léxico com expressões associadas à fala. A ideia de um idioma comum é trocada pela de “seu idioma”, pressupondo diferenças e dissidiencias, abrindo brechas para novas articulações plurais.
“Domine seu idioma, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa.”
*Trecho do texto de Bianca Dias sobre a exposição ainda sempre ainda
Los cuatro puntos cardinales son tres: el Sur y el Norte
(rosas de los vientos), 2021






Series of polyptics | Gouache on newspaper clippings | Variable dimensions
Série de polipticos | Guache sobre recortes de jornal | Dimensões variadas
Los cuatro puntos cardinales son tres: el Sur y el Norte (The four cardinal points are three: the South and the North) is a verse by the Chilean poet Vicente Huidobro. Using internal contradictions in the construction of the verse, Huidobro clarifies relations of hierarchy, power and exploitation between North and South. In this series, altered wind roses are painted on newspaper articles dealing with tensions between countries in the Global South and North.
Los cuatro puntos cardinales son tres: el Sur y el Norte (Os quatro pontos cardeais são três: o Sul e o Norte),é um verso do poeta chileno Vicent Huidobro. Usando contradições internas na construção do verso, Huidobro esclarece relações de hierarquia, poder e exploração entre o Nort e sul. Nesta série, rosas dos ventos alteradas são pintadas matérias de jornal que tratam de alguma tensão entre países do Norte e Sul Global.
Puntos suspensivos, 2021








Series of colored pencil drawings on Mina paper | 70.3 x 95.5 cm (each)
Série de desenhos de lápis de cor sobre papel Mina | 70,3 x 95,5 cm (cada)
“Cuanto antes, sin embargo, hasta ahora, aunque y a la brevedad” (Sooner, nevertheless, until now, however, and as soon as possible) are expressions taken from an article in a Mexican newspaper, published in September 2021, about the case of the 43 students from Ayotzinapa who disappeared seven years earlier, which was still unsolved.
On September 26, 2014, students from the Raúl Isidro Burgos Rural Normal School traveled to Iguala in order to travel days later to Mexico City, where they would participate in the march for the repression of October 2, 1968, known as the Tlatelolco Massacre. As they were leaving Iguala, the buses with normalistas were intercepted at different points by municipal and federal police and their partners in organized crime. Three students and three outsiders were killed in the ambush. One of the wounded students is still in a vegetative state after being shot by the police. 43 students from the Normal de Ayotzinapa were detained and to this day, they are still missing. Progress in the investigations has stalled and the families are still without answers a decade later.
“Cuanto antes, sin embargo, hasta ahora, aunque y a la brevedad” (Quanto antes, no entanto, até agora, porém, e o mais breve possível) são expressões retiradas de uma materia de um jornal mexicano, publicada em setembro de 2021, sobre o caso dos 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos sete anos antes, que seguia sem nenhuma resolução.
Em 26 de setembro de 2014, estudantes da Escuela Normal Rural Raúl Isidro Burgos viajaram para Iguala com o objetivo de ir dias depois para a Cidade do México, onde participariam da marcha pela repressão de 2 de outubro de 1968, conhecida como Massacre de Tlatelolco. Ao saírem de Iguala, os ônibus com os estudantes foram interceptados em diferentes pontos pela polícia municipal e federal e seus parceiros no crime organizado. Três estudantes e outras três pessoas foram mortos na emboscada. Um dos estudantes feridos ainda está em estado vegetativo após ter sido baleado pela polícia. 43 estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa foram detidos e ainda estão desaparecidos. O progresso das investigações foi interrompido e em 2024, uma década depois, as famílias ainda estão sem respostas.
A alegria é a prova dos nove ou
Nossa carne é de carnaval, 2021

Acrylic painting on fabric
Pintura acrílica sobre tecido
Alegria é a prova dos nove ou Nossa carne é de carnaval is a flag made of fabric scraps printed with rebellious lines, which are launched in various directions and colors, mixed together as in a carnival party.
A alegria é a prova dos nove ou Nossa carne é de carnaval é uma bandeira construída por retalhos de tecidos estampados por linhas rebeldes, que se lançam em várias direções e cores, misturadas como num bloco de carnaval.
Perguntas apropriadas | Respostas apropriadas, 2020




Collages | 21 x 29,7 cm (each)
Colagens | 21 x 29,7 cm (cada)
In April 2020, I found a book on an abandoned property. Although they fit precisely in the pandemic era, the phrases used to make the diptychs Perguntas apropriadas e Respostas apropriadas (Proper Questions and Proper answers ) Answers" collages were all cut from this book, a novel called Women in White, written by Frank G. Slaughter in 1967.
Em abril de 2020 encontrei um livro em um imóvel abandonado. Apesar de adequarem-se com precisão ao momento de pandemia, as frases usadas para elaborar os dípticos Perguntas apropriadas e Respostas apropriadas foram todas recortadas desse livro, uma novela chamada Mulheres de Médicos, escrita por Frank G. Slaughter em 1967.